Como cobrar honorários advocatícios?

Resolvi escrevi esse artigo sobre como cobrar honorários advocatícios, pois estamos falando de um assunto que literalmente põe o pão na nossa mesa.

Saber como cobrar honorários vai fazer você trabalhar menos e ganhar mais ou trabalhar mais e ganhar ainda mais.

Em resumo, saber como cobrar honorários vai te fazer entender melhor a importância do seu trabalho e certamente um advogado melhor.

Por isso, vamos lá! Lembrando que as sugestões que darei abaixo são voltadas para todos os tipos de advogados, desde aqueles que prestam serviço para pessoa física ou até aqueles que trabalham em contrato de partido para alguma empresa ou órgão.

O que eu preciso saber para precificar bem honorários advocatícios

Antes de te passar o caminho para precificar corretamente os seus honorários, você precisa identificar algumas métricas do seu escritório.

Isso é necessário, pois nós faremos a composição do seu custo mensal e somente após isso nós faremos um panorama de cobrança.

Você vai precisar calcular os seguintes gastos no seu escritório:

• Aluguel
• Luz elétrica
• Internet
• Telefone
• Serviços (contador, software jurídico, sistema de cálculo, jusbrasil…)
• salário – o quanto você deseja receber por mês do seu escritório
• impostos – tanto o de renda quanto o INSS

Passo 1: saiba a sua força de trabalho

O primeiro passo para saber precificar corretamente os seus honorários é saber quantas horas você trabalha em média, tanto diariamente, mensalmente e anualmente.

Vou te dar o meu exemplo: eu trabalho por dia 9 horas, logo, na semana são 45 horas de trabalho, 198 no mês ( 22 dias de trabalho) e anualmente 2.376 horas.

Saber disso é extremamente importante, pois todo processo que você trabalha consome o seu tempo, logo, você tem um número limitado de processos em que pode atuar.

Isso considerando que você atua sozinho, mas o raciocínio também vale para os escritórios que já tem empregados. No caso, basta somar as horas de trabalho da pessoa ao todo.

Passo 2: saiba os seus custos

Alí atrás eu te pedi para listar todos os gastos que você tem no mês com os serviços e insumos que são necessários para que o seu escritório funcione.

Mais uma vez tomando meu caso como exemplo, eu não tenho escritório, mas pago um escritório virtual, que diminui bastante os meus custos com aluguel.

Por trabalhar em casa, pago parte da conta de luz, tenho custos com contador, jusbrasil, markting, etc. Vou listar abaixo os meus números. Faça algo parecido com isso com os seus números.

Esses são os custos que tenho todos os meses para manter o meu escritório aberto, independente do ingresso com novas ações.

Uma questão importante é que trato a minha remuneração no escritório como se empregado fosse, pois somente assim posso realmente separar o meu dinheiro do que é do escritório.

Infelizmente é um erro bem comum as pessoas juntarem as contas e causar confusão patrimonial, o que pode comprometer a existência do seu escritório, já que não se sabe onde começa o escritório e onde termina pessoa física.

Ter essa separação também é importante para saber se o escritório está dando lucros de fato ou se estou apenas pagando para trabalhar.

Isso é crucial de saber, pois com base nessa informação você vai saber se determinado tipo de ação ainda está valendo a pena.

Passo 3: calculando a hora de trabalho

Agora que sabemos quantas horas de trabalho você tem disponível no mês e quanto você gasta para manter sua estrutura de trabalho rodando, vamos calcular quanto custa cada hora de trabalho no seu escritório.

É importante saber quanto custa cada hora de trabalho no escritório, pois com base nisso você saberá aproximadamente quanto custa cada processo e no fim das contas vai saber se você tem lucro ou não. É surpreendente!

A primeira coisa a se fazer é dividir o seu custo total do mês pelo número de horas que você trabalha. Vamos tomar meus números como exemplo mais uma vez, mas no seu caso, use os seus próprios números.

Eu tenho 198 horas de trabalho no mês e gasto para manter meu escritório funcionando R$ 4.436,99 todo mês, logo, o custo da minha hora é de R$ 22.40.

Sabendo desse número, você pode ter uma noção de quanto pode custas uma consulta de 1h com você ou mesmo quanto custa para você trabalhar num processo durante 2 anos, por exemplo.

Passo 3: adicionando a margem de lucro

Os números que calculamos acima dizem somente quanto devemos cobrar para empatar o nosso custo, ou seja, se você cobrar com base nele não ter lucro nenhum.

Por isso, é importante adicionar a sua margem de lucro no cálculo para que você posso cobrar e saber que alí já estará a sua margem de lucro embutida.

Lembre-se sempre de pensar como empresa, na qual você faz a roda girar e para isso recebe salário, mas a distribuição de lucro não é a mesma coias que salário, logo, devem ser tratadas como coisas diferentes.

No meu escritório, coloco uma margem de lucro de 100%. Considerando que o custo da minha hora é de R$ 22.40, cobro do meu cliente por hora de serviço prestado R$ 44,80.

Passo 4: análise de viabilidade de processo

Agora é o momento de usar todos esses números num caso prático, para ver se faz sentido pra você tudo isso que eu escrevi acima.

Eu vou fazer um cálculo de custo de uma ação real minha, que tramitou perante o juizado especial cível e que nessa ação eu sei exatamente quanto tempo gastei nela desde o atendimento ao cliente até o final da ação.

A ação foi de consumidor, no juizado, em que gastei exatamente 36 horas de trabalho, distribuído em 12h no pré processual e atendimento. Nesse ponto é importante mencionar que incluí na conta o tempo de deslocamento até o local de atendimento, o próprio atendimento o tempo de volta.

Fiz isso pois a cliente fez questão do atendimento presencial e saí de casa somente para atendê-la. Agora, se você vai todo dia para o seu escritório, considere inserir no custo somente o tempo de atendimento ou até deixar de incluir, se o atendimento for realizado online.

Além das 12h antes de mesmo de iniciar o processo, gastei mais 24h com a confecção da inicial e demais peças, pois era um caso bem complexo para juizado e que não usei modelo. Houve audiência e tiver que ir até o fórum para participar, além de diversas petições intermediárias no curso da ação, como réplica.

Houve também a interposição de recurso e a sustentação oral perante a turma. No fim das contas, a ação durou 2 anos e gastei R$ 806,40, pois 36xR$22,40.

Esse valor de R$ 806,40 tem que ser atualizado, pois eu considero que o valor do honorário é devido no início da ação, já que se está prestando um serviço, que por pressão do mercado acabamos por cobrar no êxito.

Nesse caso, considerando a SELIC o valor atualizado seria de R$ 1.026,05 o custo para manter esse processo na minha carteira durante dois anos.

Agora vamos colocar a nossa margem de lucro, que no meu caso, é de 100%. Logo, nesse caso eu teria que receber pelo menos R$ 1.026,05 para empatar meus ganhos e acima disso seria o meu lucro, que o projetado é de 100%, logo, teria que receber R$ 2.052,10.

Nesse caso, cobrei honorários apenas no êxito, na porcentagem de 30%, o que implica dizer que essa ação deveria gerar uma condenação de pelo menos R$ 3.420,17 para que não saia no prejuízo e de R$ 6.840,33 para que a minha margem de lucro com o processo seja alcançada.

Com isso, antes de entrar com uma ação, dá para saber aproximadamente quanto o juiz daquela comarca condena em casos semelhantes e avaliar se vale a pena ou não entrar com a demanda.

Também é necessário avaliar o custo do processo, pois existem processos em que são necessárias menos horas de trabalho e dão resultados bons, que os tornam mais lucrativos até que processos com valores maiores.

No meu caso, a ação custou R$ 1.026,05 e ganhei com ela apenas R$ 1.500,00, o que me faz concluir que não tive prejuízo com o processo, mas meu lucro foi pequeno, portanto, não vale a pena entrar com esse tipo de ação, sendo mais vantajoso buscar outros tipos de processos em que gasto menos tempo e ganho mais honorários.

Considerando o meu custo, tive R$ 473,95 de lucro, que é R$ 552,10 menos que planejei. Esse processo me pagou R$ 236,97 por ano e R$ 19,74 por mês.

Como saber quanto tempo gasto em cada processo

Eu só sei o quanto gastei nesse processo porque fiz o acompanhamento desde o início. É um pouco chato, confesso, mas é necessário para saber se você está trabalhando de graça ou não.

Eu indico que você cronometre o tempo que gasta em petições iniciais, atendimentos e tudo o que for relacionado ao processo para ter uma noção do que toma mais seu tempo e se esse investimento está sendo recompensado.

Eu uso o Clockify para monitorar o tempo que gasto. Nele, é possível criar o cliente e toda vez que for trabalhar num caso desse cliente, basta iniciar o cronômetro e no fim do processo, fazer o cálculo para saber o custo total.

Abaixo tem um print da minha tela em que mostro como eu uso. Basicamente, crio o nome do clinete e toda vez que trabalho já cronometro o tempo dele.

Isso tem me aberto os olhos para algumas ações e clientes que definitivamente não valem o esforço. Dão muito mais trabalho do que dinheiro.

Planilha grátis de precificação de honorários

Com base no que escrevi acima eu fiz uma planilha para cálculo de honorários de modo que basta você preencher com as suas informações que o valor será gerado automaticamente.

Para baixar a planilha, clique no botão abaixo.

BAIXAR PLANILHA

Conclusão

Saber quanto custa um processo no seu escritório te dará a noção de viabilidade daquele caso e certamente fará com que você deixe de aceitar qualquer cliente no seu escritório.

Nossos honorários são sagrados, não podemos deixar de saber como cobrá-los do jeito certo, pois isso pode estar te deixando para trás e, pior ainda, fazendo com que você trabalhe em casos ruins e que só te dão prejuízo.

Saber cobrar os honorários corretamente é o primeiro passo para uma advocacia plena, com horários de trabalho ajustados e remuneração justa pelo seu trabalho.